No ano passado, conheci a médica
endocrinologista Vanessa Montanari em eventos de discussão sobre diabetes,
tanto na Assembleia Legislativa, como na Câmara dos Vereadores de São Paulo. Ela
tem filho de 9 anos tem diabetes tipo 1 e é uma pessoa muito participativa.
Hoje é conselheira da ADJ e resolvi entrevistá-la, pois ela tem muito o que
acrescentar. Confira entrevista abaixo:
Quais são as dificuldades que a pessoa com
diabetes enfrenta no SUS?
Inicio pela falta de prevenção no Sistema
Público de Saúde. Muitos projetos mirabolantes são inventados, porém a maioria
das pessoas com diabetes não possui prevenção primária para controle de obesidade
ou para diagnóstico precoce do diabetes. Poucos Concursos Públicos para
contratação de médicos especialistas são realizados, e quando são, pagam
valores muito baixos, desestimulando o especialista a continuar trabalhando no
Sistema Público de Saúde. A mídia mostra que laboratórios de Análises Clínicas deixam
o paciente esperar um mês para seus exames ficarem prontos. Noticiários de TV
mostram filas imensas, com alta demanda de pacientes, dificultando o retorno dos
mesmos com seus especialistas, postergando o tratamento favorecendo desta forma
complicações. Além disso, o pouco tempo
disponível ao atendimento e a burocracia atrapalham a relação médico-paciente
dificultando orientações básicas e importantes sejam passadas para o paciente.
E por último, existe poucas equipes de caráter multiprofissional com
psicólogos, médicos, nutricionistas, educadores físicos capacitados em diabetes
e bem entrosados entre si. Todo um trabalho que deveria ser multiprofissional e
na verdade se concentra apenas no médico. Como resultado, ele acaba fazendo o
que pode nos seus poucos minutos de consulta.
Quando começou a se engajar mais pela
causa?
Eu tive um período de adaptação, após o diagnóstico
do Lucas. Nenhum pai ou mãe espera ter um filho com diabetes, e comigo não foi
diferente. Sou endocrinologista de pacientes adultos, então a realidade pediátrica
não fazia parte do meu dia a dia. Porém com o diagnóstico do Lucas, comecei a
ver muitas dificuldades e aflições que o paciente passa. A causa do diabetes é muito
maior que somente o controle. Existem muitas falhas do tratamento médico desde
a falta de triagem nos hospitais (tanto públicos, como privados) para um
recente diagnóstico, até a falta de capacitação, tempo, remuneração de vários
profissionais da saúde para um bom auxílio e acompanhamento do paciente.
Quais são seus sonhos com relação ao
diabetes?
Na verdade, meu sonho é um tratamento
fácil, prático e acessível a todos os pacientes com diabetes. Lógico que como
mãe, também tenho o sonho da cura, e vou lutar para isso, pois nada é
impossível. Mas no momento em que vivemos, temos de investir no que é mais real
como a tecnologia em favor do controle do diabetes e com acessibilidade
universal.
O que gostaria que mudasse com
relação à política de saúde no país?
Gostaria que parte do Orçamento Federal
fosse realmente utilizado em Saúde e Educação. Gostaria que estes recursos não
fossem desviados em todas as instâncias, pois a corrupção é disseminada em
nosso país e do mesmo jeito que desviam dinheiro de merenda escolar, existem
aqueles que desviam dinheiro de insumos e medicamentos no SUS. Para mim, precisa
mudar a cabeça de todos, independentemente de partidos políticos. Precisaria
ter um choque de consciência através de um programa de ética profissional e pessoal
para o funcionalismo público. Nossos governantes deveriam discutir um pouco
melhor as mazelas e problemas no SUS, para que realmente ele se adeque à
universalidade de oferta de uma medicina e saúde pública de qualidade para toda
a população.
Quais são as políticas públicas que
gostaria que o Brasil implementasse?
Devido a uma estrutura nacional, o SUS tem
poucos recursos para desenvolver suas ações e serviços de saúde para toda a
sociedade brasileira e infelizmente, há muitos anos, a saúde não tem sido
prioridade para vários governos. Houve a Emenda Constitucional 29, que tramitou
por vários anos no Congresso Nacional, que obrigaria a União a pagar 5% a mais
ao orçamento da Saúde, os Estados seriam obrigados a pagar, no mínimo 7% dos
seus orçamentos à saúde, e o municípios de 7% a 15%. Isso impediria cortes no
orçamento da saúde, evitando fechamento de laboratórios e hospitais, além de
garantir funcionamento de programas e projetos, que assistem a milhões de
cidadãos. Essa PEC foi aprovada no Congresso Nacional, mas foi quase
completamente vetada pela Presidente Dilma Rousseff. Essa PEC garantiria o
cumprimento das diretrizes básicas do SUS que são: a universalidade, a integralidade,
a equidade, a descentralização e a participação da sociedade no SUS. Precisamos
de mais recursos para o SUS, de gestores capacitados e estimulados, e
necessitamos campanhas de ética para evitar corrupções em todas as instâncias,
que impedem o dinheiro de ser devidamente utilizado na saúde. Atualmente estou
torcendo pela implantação de insulinas análogas no SUS, pelo menos para
crianças e adolescentes. Este projeto está sendo conduzido pela Sociedade
Brasileira de Diabetes e em breve espero ter resultados na melhora da qualidade
de vida do paciente com diabetes. E tanto no sistema Público, como no Privado,
necessitamos de equipes Multiprofissionais, engajadas, entrosadas, que
realmente se interessem em fazer diferença na vida das pessoas com diabetes.
Bate Papo - Diabetes Adicionar Emotions Ocultar Emoticon